Na Ayurveda enfatiza-se o período de preconcepção como tão ou mais importante que o próprio período da gravidez. Tomar tempo para a preconcepção oferece a oportunidade de sonharmos e proporcionarmos o melhor de nós para a criança vindoura.
Como, na verdade, em todos os grande projectos da nossa Vida, na Ayurveda considera-se que a concepção de uma criança deve ser precedida de cuidados físicos e adequações de rotina diária, estabilização da relação emocional do casal e desenvolvimento da cumplicidade e suporte – tão necessário no pós-parto -, delineação de uma visão abrangente do processo, e foco no amor e na gratidão inerentes à responsabilidade que vem com esta escolha.
Na Ayurveda enfatiza-se o período de preconceção como tão ou mais importante que o próprio período da gravidez. Tomar tempo para a preconceção oferece a oportunidade de sonharmos e proporcionarmos o melhor de nós para a criança vindoura.
Neste processo ayurvédico de preconceção, são aproveitadas as capacidades naturais do corpo para a limpeza e renovação. Enfatizam-se também o papel do feminino e do masculino como igualmente relevantes.
Muito mais que o ato físico, a fertilidade começa no desejo do casal crescer, de formar uma família, de materializar o seu amor de forma física e concreta com a conceção de um bebé. Essa é uma vontade que nasce em duas almas, que convergem, unem-se, harmonizam-se, e que convidam uma nova alma a fazer parte do seu projeto na Terra, e do seu processo de evolução pessoal e espiritual.
Antes do corpo físico do pai e da mãe estarem verdadeiramente férteis, todas as suas dimensões mais subtis – emocional, mental e espiritual – devem ser alimentadas, nutridas, acarinhadas, de forma a que a sua conceção e materialização resulte numa criança que nasce numa consciência e nutrição maior gerada pelos seus pais.
Todos estes conceitos aplicam-se naturalmente a todos os atos de receber uma nova alma no seio familiar, seja no caso de fertilização in vitro, doações de esperma e óvulos, e na adoção de uma criança. Em qualquer dos caminhos torna-se necessária a preparação emocional e espiritual de quem recebe.
Os quatro elementos essenciais da fertilidade
Na Ayurveda existem quatro componentes essenciais que devem trabalhar juntos de forma ideal para que a conceção ocorra: tempo (Rtu), o campo (kshetra), fluidos e nutrição (ambu) e a semente (bija) .
Tempo (Rtu)
Começar a seguir a regularidade do ciclo menstrual na mulher, e determinar o tempo de ovulação é uma das formas como o casal começa a preparar-se física e emocionalmente para conceber. Na Ayurveda as estações do Ano são também tidas em conta já que a Natureza como um todo é mais fértil durante a primavera – as árvores germinam novamente, os ovos estão no choco e a exuberância e suculência da primavera substitui a secura do inverno, sendo o Outono considerado a altura menos favorável para a conceção. Observam-se ainda fatores como a estabilidade na vida, no que se refere a responsabilidades e prosperidade, o equilíbrio social e momento político vivido no local onde os pais residem, já que a nova alma vai ser amplamente influenciada por todos estes fatores.
O Campo (Kshetra)
Assim como o tempo, o campo (kshetra) também possui uma macro-manifestação de todo o corpo humano, que se aplica a homens e mulheres, e uma micro-manifestação do útero, literalmente o campo em que a gravidez cresce. Começando com um corpo saudável suporta uma microesfera saudável. Uma excelente ilustração desse relacionamento é a síndrome do ovário poliquístico, em que altos níveis de kapha não processado no corpo, principalmente a partir do açúcar e maior resistência à insulina, contribuem muito para a ovulação diminuída e, em muitos casos, ausente.
Na Ayurveda é muito importante que o campo – o útero – esteja livre de toxinas (ama) alimentares, e também emocionais e mentais, assim como esteja com um formato e cavidade regular, oferecendo uma passagem clara, desobstruída de massas (miomas) ou anomalias. Tal como o útero, as trompas de falópio devem também estar desobstruídas e sem cicatrizes de infeções. O equilíbrio dos humores – Vata, Pitta e Kapha – é fundamental para o crescimento do feto.
Fluidos Saudáveis e Nutritivos (Ambu)
Os fluídos saudáveis referem-se a plasma e linfa (rasa) e sangue (rakta). O conceito de ambu abrange ainda os próprios nutrientes que nutrem o homem e a mulher, o que inclui hormonas, vitaminas e minerais específicos e Ojas (a própria essência da vitalidade e imunidade). É importante que tanto o plasma como a linfa circulem fortes e livres de desidratação, secura ou irregularidades. O sangue deve estar nutrido e vitalizado, livre de anemia, fadiga e falta de energia, sendo importante considerar também eventuais problemas de pele, como eczema e psoríase.
É naturalmente importante haver saúde e equilíbrio hormonal, e uma dieta e nutrição adequada, equilibrada e fresca suprida de todos os minerais e vitaminas essenciais, evitando-se o excesso de alimentos pobres, como congelados, processados, rancificados, enlatados.
A Semente (Bija)
A semente da fertilidade refere-se ao óvulo e esperma. Na Ayurveda, o Shukra e Artav – o tecido reprodutivo – é o último tecido do nosso corpo a ser criado. É o tecido mais refinado, puro e completo gerado como produto de todos alimentos, emoções e pensamento que digerimos e processamos. Assim sendo, o seu equilíbrio, brilho e perfeição requer o melhor dos melhores – a melhor comida, os melhores pensamentos, as melhores emoções, o melhor ambiente. Isto é especialmente verdade para os homens, uma vez que espermatozoides totalmente maduros são produzidos, em média, a cada dois meses. Para as mulheres, manter um ambiente saudável e harmonioso influi na qualidade dos ovos que produz.
O stress e a fertilidade
Nos dias de hoje o stress tem sido o grande adversário de uma fertilidade plena e saudável, já que o estilo de vida da maior parte das pessoas, e da sociedade em si contém fatores que aumentam drasticamente o Vata, onde a fertilidade plena implica um Vata totalmente sereno e pacificado.
O stress pode literalmente desligar a hipófise, o centro hormonal do cérebro que envia os primeiros mensageiros aos ovários para que a ovulação ocorra. A constante estimulação do cortisol (a hormona emitida em estados de stress), coloca o sistema nervoso em estado de alerta e pânico, e gera um ambiente de secura agravada e nada adequada à fertilidade. Como reação o corpo conserva engenhosamente os seus recursos para a ameaça externa percebida e coloca funções menos vitais, como a reprodução, em segundo plano. Todas as estratégias que reduzem o stress quotidiano são naturalmente cruciais no cultivo de uma fertilidade saudável.