MASALA: O CONCEITO DE ANTÍDOTO NA AYURVEDA

Encontrar o equilíbrio na digestão é um dos grandes propósitos preventivos na Ayurveda. A nossa capacidade digestiva envolve muito mais que a nossa capacidade de digerir e assimilar nutrientes.

Através da digestão favorecemos a capacidade de absorver e assimilar também pensamentos, emoções, sentimentos. O estômago é um órgão recetivo, e as diferentes constituições bioenergéticas – Vata, Pitta e Kapha – têm diferentes capacidades de digestão, absorção, assimilação e integração.

Ingerimos ao longo de um ano uma quantidade extraordinária e diversa de alimentos. Na sua forma física os alimentos contêm nutrientes, contudo, eles contêm também prana, vibração e informação. Aumentar a capacidade de digestão e assimilação a todos os níveis tem sido um dos focos da Ayurveda. De forma a aumentarmos a capacidade de assimilar foram criadas várias fórmulas – as Masalas – que contêm várias especiarias que potenciam a digestão. De entre as mais conhecidas temos o caril masala, a garam masala e a tea masala.

Caril Masala

O caril é uma mistura de especiarias usada na culinária indiana que varia muito na sua composição, dependendo da região de origem e das preferências pessoais. Podemos encontrar caril em quase todo o mundo. Embora seja uma masala de origem indiana, diferentes regiões da Índia desenvolveram as suas próprias misturas. As viagens dos comerciantes indianos pelo mundo, a partir do final do século XVIII contribuíram para a difusão da sua tradição culinária. O caril feito com ingredientes regionais integraram-se na culinária local em quase todos os lugares a que os indianos chegaram.

Alguns dos ingredientes mais comuns no caril incluem o açafrão-da-índia, o feno-grego, os coentros, a canela e o gengibre. As sementes de mostarda, os cominhos, a pimenta caiena e o cardamomo são também frequentemente incluídos nas misturas de caril. Para se preparar a masala de caril em casa é recomendável  comprar especiarias inteiras e triturá-las para se obter frescura e um perfil de sabor mais completo. Na receita abaixo, as especiarias são usadas inteiras, embora também possam ser usados pós de especiarias com uma proporção de 1: 1.

Ingredientes:

3 colheres de sopa de sementes de coentros

2 colheres de sopa de cominhos

2 colheres de sopa de açafrão-da-índia moído

1 colher de sopa de sementes de mostarda

2 colheres de chá de sementes de cardamomo

1 colher de chá de gengibre em pó

1 colher de chá de pimenta preta

5-8 paus inteiros (ou 1 colher de chá de canela em pó)

1/2 colher de chá de pimenta caiena

Muitos destes ingredientes oferecem benefícios potenciais consideráveis à saúde:

– Controle de açúcar no sangue: A curcuma, uma das principais especiarias do caril em pó, pode diminuir o risco de diabetes. Um estudo descobriu que o composto ativo da curcuma, a curcumina, evitava picos acentuados de açúcar no sangue e melhorava a sensibilidade à insulina em animais alimentados com uma dieta rica em gordura. Os pesquisadores observaram que a curcumina mostrou efeitos semelhantes ao medicamento para diabetes rosiglitazona e concluiu que os benefícios da curcumina podem ser devidos, em parte, a efeitos anti-inflamatórios.

– Anticancerígeno: Consumir caril em pó regularmente pode prevenir o cancro. A curcumina tem a capacidade de parar o cancro num dos seus estágios iniciais. A melhor forma de consumir a curcuma é assá-la com um pouco de água e pimenta preta (para potenciar a absorção dos seus princípios ativos), e guardá-la no frigorífico.

– Gestão do colesterol: O caril em pó pode ajudar a diminuir o colesterol e prevenir os cálculos biliares devido a uma das suas especiarias constituintes, o feno-grego.

– Desintoxicação: O pó de caril contém coentros que pode ajudar a remover metais pesados tóxicos, como o chumbo e o mercúrio. Um estudo descobriu que o consumo diário de coentros evitava alguns dos efeitos do envenenamento, incluindo também os baixos níveis de testosterona e a baixa contagem de espermatozoides. Os pesquisadores observaram que os coentros protegiam contra o stress oxidativo da exposição ao chumbo.

Garam Masala

Garam masala, ou “especiarias quentes”, é usada para adicionar sabor e aroma aos alimentos. É comum também no subcontinente indiano, nas Maurícias e em outras partes do mundo. De acordo com o Ayurveda, as especiarias da garam masala têm uma potência quente e aumentam o Pitta, a temperatura corporal, e o poder digestivo. Existem várias variações aos ingredientes principais da fórmula da garam masala. É natural que cada família e região ajustem a fórmula à sua latitude e necessidades específicas.

Em vez de gengibre seco, algumas pessoas optam por adicionar gengibre fresco. Em algumas regiões, são também adicionados grãos de pimenta brancos aos grãos de pimenta pretos. Noutras regiões, são adicionadas sementes de funcho, açafrão, alho, feno-grego, mostarda e tamarindo, embora essa variação seja menos comum. No sul da Índia, é habitual usar-se como uma pasta geralmente feita com leite de coco ou água.

Para se preparar a garam masala caseira é necessário secar todas as especiarias à luz do sol por três a quatro dias para remover toda a humidade e libertar todos os possíveis germes que possam existir nas mesmas. Existe ainda a tradição de se assarem os temperos, que melhora o aroma de algumas especiarias, embora nem todas beneficiem deste calor extra.

As principais especiarias da Garam Masala são:

– Sementes de cominhos, quentes em potência. Equilibram o Kapha e o Vata e aumentam o Pitta. As sementes de cominho são úteis na anorexia. Elas conferem sabor aos alimentos, melhoram a força digestiva, ajudam na eliminação do ar abdominal, indigestão, síndrome do intestino irritável, hemorroidas, infestação por vermes e diarreia.

– Sementes de coentros são quentes em potência. As sementes de coentros conferem sabor aos alimentos, aumentam a força digestiva, ajudam sede excessiva, diarreia, infestação por vermes, anorexia, vómito e dor abdominal.

– Pimenta preta é quente em potência, e equilibra o Vata e o Kapha. A pimenta preta aumenta a força digestiva, estimula as secreções hepáticas, aumenta a produção de saliva e é útil na infestação de vermes. Elimina gases abdominais excessivos, inchaço abdominal e dor no abdómen.

– Pau de canela é quente em potência e equilibra o Vata e o Kapha, e aumenta  Pitta. A Canela é útil no aumento da força digestiva, digestão de alimentos, diarreia, indigestão, elimina o ar abdominal excessivo, estimula as secreções hepáticas e liberta a infestação por vermes. É útil na dor abdominal, na síndrome do intestino irritável e hemorroidas.

– Cravinho da índia é frio em potência, e equilibra o Kapha e o Pitta. O cravinho é útil para aumentar a força digestiva, a digestão e o sabor. Aumenta a produção de saliva, é útil na secura da boca e no mau hálito. Elimina o ar excessivo do abdómen, ajuda a reduzir o inchaço abdominal e a dor abdominal. Estimula as secreções hepáticas, é útil na anorexia, na acidez, na síndrome do intestino irritável crónico, náusea e sede excessiva.

– Vagens de cardamomo verde é frio em potência e equilibra todos os três doshas. O cardamomo é útil para nos livrarmos do mau hálito. Limpa a boca, é útil em náuseas, vómitos e sede excessiva. Dá sabor aos alimentos, aumenta a força digestiva, ajuda na digestão e atua como um laxante suave. É útil na dor abdominal, inchaço abdominal e hemorroidas.

– Vagens de cardamomo preto é quente em potência, e equilibra o Kapha e o Vata, e aumenta o Pitta. As vagens de cardamomo pretas conferem sabor aos alimentos, aumentam a força digestiva,  úteis na anorexia, náusea e vómito. Agem como um laxante suave, são úteis em sede excessiva, em dores abdominais, inchaço, problemas hepáticos e hemorroidas.

– Noz-moscada é quente em potência, e equilibra o Kapha e o Vata. É útil na remoção do mau hálito, confere sabor aos alimentos e é útil no aumento da força digestiva, na digestão, estimula as secreções hepáticas, elimina o ar abdominal excessivo, útil na diarreia, na infestação de vermes, na síndrome do intestino irritável, sede excessiva e vómitos.

– Folha de louro é quente em potência, e equilibra o Vata e o Kapha, e aumenta o Pitta. É útil no aumento da força digestiva, digestão de alimentos, diarreia e indigestão. Elimina o ar abdominal excessivo, estimula as secreções hepáticas e é útil na infestação por vermes, dor abdominal, síndrome do intestino irritável e hemorroidas.

– Gengibre seco é quente em potência, e equilibra o Kapha e o Vata. Atua como aperitivo, melhora o paladar e é útil na anorexia. Melhora a força digestiva, elimina o ar excessivo do abdómen, inchaço abdominal, dor abdominal, hemorróidas, náusea e vómito.

Tea Masala ou Chai Masala

O Chai Masala ou Tea Masala é uma mistura aromática de especiarias inteiras que torna o chá indiano perfumado e saboroso, para além de minimizar o impacto de aumento do Vata e do Pitta que a folha do chá provoca naturalmente. Semelhante à mistura de especiarias da Garam Masala, cada casa tem a sua própria receita secreta para fazer o chai e o chai masala. Todos incluem os mesmos ingredientes – leite, açúcar, folhas de chá. Alguns gostam do chai com muito gengibre, alguns com vagens de cardamomo verde e alguns de Masala Chai, que contém uma mistura de especiarias inteiras.

A Tea Masala habitualmente contém:

– Cravinho-da-índia: O cravo-da-índia possui propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Eles acrescentam profundidade e um tom terroso ao chai.

– Cardamomo Verde: O cardamomo possui antioxidantes e compostos para combater o cancro. Acrescenta fragrância e  uma doçura sutil ao chai.

– Pimenta preta: A pimenta preta tem propriedades anti-inflamatórias, ajuda na digestão e absorção de nutrientes. Eles adicionam um toque quente ao chai.

– Sementes de erva-doce: a erva-doce ajuda na digestão saudável e tem um efeito calmante. Eles adicionam um sabor sutil e refrescante ao chai.

– Canela: A canela tem propriedades medicinais poderosas, como diminuir o risco de diabetes, regular o açúcar no sangue e muito mais. Acrescenta doçura e calor naturais ao chai.

– Pó de gengibre seco: O gengibre ajuda a reduzir a inflamação e melhora a digestão e a imunidade contra gripe e constipações. Ele adiciona um sabor sutil e calor ao chai.

– Noz-moscada: a noz-moscada tem a capacidade de aliviar a dor, melhorar a indigestão e a circulação sanguínea. Acrescenta um sabor levemente doce e quente ao chai.

Para se preparar a Tea Masala em casa, todos os ingredientes devem ser misturados (exceto a noz-moscada) no liquidificador, de modo a gerar um pó grosso. Ralar a noz-moscada usando um ralador fino. O Chai Masala deve ser armazenado num recipiente hermético, e deve ser usada uma colher limpa e seca ao retirá-lo do frasco. Para se preparar o Chai deve-se adicionar 1/4 de colher de chá de masala por chávena. Podem-se adicionar folhas de tulsi, pétalas de rosa secas e gengibre a esta masala.

ALIMENTOS FERMENTADOS: EQUILIBRAR AS BOAS BACTÉRIAS COM A AYURVEDA

A preparação de alimentos e bebidas fermentados através de crescimento microbiano controlado são produzidos e consumidos desde o desenvolvimento da civilização humana, pela sua tremenda capacidade de melhoria da saúde intestinal. Conheça os seus benefícios através do conhecimento milenar da medicina ayurvédica.

Achar de limão

O valor dos alimentos fermentados é conhecido desde os primórdios da Ayurveda, tanto pelos seus benefícios ao nível da preservação dos alimentos, como pela capacidade de acelerar o agni, fomentando a digestão da ama (toxinas), e o reabastecimento de enzimas.

A preparação de alimentos e bebidas fermentadas feitos através de crescimento microbiano controlado, e conversões enzimáticas de componentes alimentares maiores e menores, têm sido itens básicos da nossa dieta, e foram produzidos e consumidos desde o desenvolvimento da civilização humana, pela sua tremenda capacidade de melhorarem a saúde intestinal.

A culinária indiana é composta de alimentos fermentados essenciais, como idli (bolo de arroz e lentilhas fermentadas), chutney (fruta ou vegetal tradicionalmente fermentado ao sol), dosa (arroz e feijão fermentados), lassi (leite fermentado), que fornecem o correto aporte de boas bactérias intestinais. Contudo, a utilização destes alimentos tem sido rodeada de alguns cuidados na Ayurveda sendo habitualmente evitada a utilização de alimentos fermentados de longa duração – alimentos rancificados e apodrecidos (como o queijo) – já que o excesso de fermentação tem a tendência para aumentar drasticamente o Pitta, desequilibrando o fogo digestivo, e aumentado também a inflamação no organismo. Os apreciadores de queijo podem ainda assim ficar moderadamente descansados, já que a ingestão dos mesmos pode ser adequada em zonas do globo onde o clima é mais frio que na Índia, de forma geral no inverno.

Benefícios da fermentação

O intestino é agora conhecido como o segundo cérebro devido ao tamanho, complexidade e semelhança em termos de neurotransmissores com o nosso cérebro. De facto, as boas bactérias podem estimular as células no revestimento do intestino a produzirem a sensação do bom neurotransmissor serotonina.

As culturas de bactérias benéficas produzidas durante a fermentação ajudam a melhorar a digestão, tornando-a mais fácil devido à pré-digestão dos alimentos pelas enzimas. Estes alimentos podem reduzir a inflamação (quando são fermentos de curta duração), fortalecem o sistema imunitário, impedem que bactérias nocivas se sobreponham no intestino, o que pode levar a condições digestivas crónicas, como cândidas, disbiose intestinal e síndrome do intestino irritado.

A fermentação permite a conservação de quantidades substanciais de alimentos através de fermentações de ácido láctico, álcool, ácido acético e alcalino. Enriquecem a dieta através do desenvolvimento de uma diversidade de aromas, texturas e sabores em substratos alimentares, e produzem ainda um enriquecimento biológico de substratos alimentares com proteínas, ácidos essenciais, aminoácidos gordos essenciais e vitaminas. De forma muito prática os alimentos fermentados diminuem o tempo de confeção e a necessidade de combustível, tornando-os práticos para a nossa cultura atual.

Os alimentos fermentados proporcionam muitos benefícios à saúde, tais como atividade antioxidante, antimicrobiana, antifúngica, anti-inflamatória, antidiabética e anti-aterosclerótica. Podem trazer benefícios para que tem intolerância à lactose, ajudam a controlar o colesterol, têm efeitos anticancerígenos, aumentam a energia e a longevidade, previnem doenças inflamatórias intestinais, têm um efeito anti-hipertensivo e antidiabético, melhoram o humor e comportamento. Devido à sua digestibilidade, e reforço da flora intestinal, os alimentos fermentados combatem a obesidade.

Dahi ou requeijão (iogurte)

Segundo a Ayurveda, a coalhada é um aperitivo, estimulante digestivo, afrodisíaco, untuoso e promotor de força. Ele pacifica o Vata, é auspicioso e nutritivo. É útil na rinite, diarreia, febre com frio, anorexia, disúria e emaciação. O dahi indiano (iogurte) consumido a cada refeição tem inúmeros benefícios para a saúde. A fermentação do leite resulta na quebra da caseína ou proteína do leite, uma das proteínas mais difíceis de digerir. A cultura restaura muitas das enzimas destruídas durante a pasteurização, incluindo a lactase, que ajuda a digerir a lactose. Isso, por sua vez, ajuda o corpo a absorver cálcio e outros minerais.

A lactase produzida durante o processo de cultura permite que muitas pessoas sensíveis ao leite tolerem produtos lácteos fermentados. O consumo regular de produtos lácteos cultivados reduz o colesterol e protege contra a perda óssea, sendo o cálcio, o magnésio ou os ácidos gordos específicos presentes nos laticínios podem ser benéficos. Tem-se constatado uma redução no risco de doença cardiovascular (DCV), diabetes tipo 2 (DM2) e mortalidade geral pelo consumo frequente de iogurte. Esses benefícios podem estender-se às respostas fisiológicas imediatas, uma possibilidade recentemente indicada pela constatação de que o consumo de leite fermentado melhorou o metabolismo da glicose e reduziu a dor muscular induzida pelo exercício resistido agudo.

Lassi

O Lassi é uma bebida tradicional indiana produzida pela mistura de iogurte com água, é muito popular pela sua capacidade de melhorar a digestão. O lassi pode ser apreciado como uma bebida doce, ou como uma bebida com infusão de especiarias, sendo preparada de forma a equilibrar os três doshas. Para apaziguar o Pitta, pode ser adicionada manga doce ou madura, com um pouco de açúcar e de cardamomo. Para pacificar o Vata e o Kapha, adiciona-se um pouco de sal, gengibre ou pimenta preta, e cominhos ao lassi. No norte da Índia, o lassi é misturado com um pouco de açafrão da índia em pó como remédio para gastroenterite. O lassi é melhor feito fresco antes de servir.

Kaanji

Na Ayurveda é descrito como Sukta, que agrava o Pitta e o Kapha e pacifica o Vata. No norte da Índia, a cenoura de cor púrpura é fermentada juntamente com sementes de mostarda trituradas, pimenta em pó quente e sal por 7-10 dias para obter uma bebida popular chamada Kanji, que é considerada de alto valor nutricional e propriedades refrescantes e calmantes. Uma bebida semelhante é feita a partir de beterraba, que tem o potencial de prevenir doenças infecciosas e malignas. As bactérias do ácido láctico, ou probióticos desempenham um papel importante na fermentação de vegetais. Melhora o valor nutritivo, palatabilidade, aceitabilidade, qualidade microbiana e o prazo de validade do alimento. Esta bebida de probióticos traz um valor de reforço imunológico.

Dosa (feijão ou lentilhas e arroz fermentado)

Os Dosa é um delicioso crepe de arroz e lentilha (ou feijão) fermentados tradicionalmente apreciado na parte sul da Índia. Os Dosas são altamente nutritivos e fáceis de digerir. A Ayurveda recomenda o uso de lentilhas pretas para se confecionarem os dosas, especialmente no inverno. Eles ajudam a combater o clima frio, fornecendo calor. As lentilhas negras são altamente nutritivas e ajudam a construir todos os sete tipos de tecidos do corpo, especialmente o tecido muscular.

Na confeção é essencial ensopar as lentilhas antes de cozinhar para ajudar a eliminar o ácido fítico, e reduzir o gás intestinal, e torná-las fáceis de digerir. O arroz Basmati é um hidrato de carbono refrescante de fácil digestão. O feno-grego acrescenta calor, ajuda na digestão das lentilhas, bem como no processo de fermentação e apoia o equilíbrio de açúcar no sangue. A combinação de arroz e lentilhas resulta numa “proteína completa”, pois tem todos os aminoácidos essenciais, o que é especialmente importante para os indivíduos com uma dieta vegetariana. Além disso, os dosas são isentos de glúten e podem ser facilmente fabricados sem produtos lácteos, substituindo o ghee pelo óleo de coco.

O chutney de coentros e coco que é tipicamente servido ao lado de dosas, fornece uma boa fonte de gordura na forma de coco. As especiarias como o gengibre, os coentros, o pimentão verde e os cominhos promovem o apetite e ajudam na digestão.

Idli

O Idli é um saboroso bolo cozido, feito à base de leguminosas fermentadas. O arroz e as lentilhas pretas são os principais ingredientes, sendo necessária uma panela especial para os confecionar. O Idli é geralmente considerado como um alimento anti-obesidade e é usado em dietas de emagrecimento. É útil para reduzir o risco de doenças cardiovasculares, pressão alta e derrames. Ele também é usado como um suplemento dietético para tratar crianças que sofrem de desnutrição proteico-calórica. Os micronutrientes como o ferro, zinco, folato e cálcio impedem a anemia e facilitam a oxigenação do sangue e a nutrição dos músculos e ossos. Os hidratos de carbono e a fibra alimentar promovem a digestão saudável e a formação de fezes volumosas.

Michele Pó, Ayurveda

Vinagre de maçã | Uma perspetiva ayurvédica

Sendo um preparado de origem ocidental, o vinagre de maçã não vem documentado na Ayurveda. Tradicionalmente preparado a partir de maçãs maduras que fermentam lentamente durante o período de um mês, é recomendado para suportar o açúcar no sangue saudável, aliviar o peso, aumentar a produção de ácido do estômago (agni) e reduzir os desejos. É um estimulante digestivo e circulatório. O vinagre é indicado para ajudar a secreção de ácido clorídrico e para promover e facilitar a menstruação.

De acordo com os clássicos textos ayurvédicos, “Não há nada no mundo que não tenha utilidade terapêutica em condições e situações apropriadas”. Por outro lado, existem sempre situações em que os alimentos e as ervas são desadequadas. Na perspetiva ayurvédica, “A eficácia da digestão depende da força do fogo digestivo (agni)”. Se o fogo digestivo é forte, então o apetite é bom, a digestão e a absorção são fáceis, e a eliminação é constante. Se o fogo digestivo estiver baixo, a comida pode ficar no estômago, e podemos sentir-nos ofegantes, entorpecidos, ou mesmo enjoados. Quanto mais comermos pior nos iremos sentir. Por outro lado, se o fogo digestivo estiver muito alto, podemos sentir ardor, dor ou desconforto, e alívio quando comermos.

Na Ayurveda, substâncias diferentes têm efeitos diferentes no fogo digestivo de um indivíduo, dependendo da constituição da pessoa. O aquecimento de substâncias como o gengibre, a pimenta ou a canela estimulam o agni e são mais simpáticas para o Vata e para o Kapha, predominantemente frios. Os alimentos e ervas refrescantes, como a romã, raiz de alcaçuz ou o sumo de aloé vera, retardam ou facilitam o agni, e geralmente beneficiam o Pitta. O paladar também afeta a digestão. Os alimentos de sabor ácido, salgado e picante aquecem, e tendem a aumentar o agni, enquanto que os sabores adocicados e adstringentes são frios e inibem-no. O sabor amargo, sendo fresco e leve, suporta o Pitta e o Kapha.

Olhando para a dinâmica energética de uma maçã madura, o seu sabor (rasa) é adstringente, doce e ácido; o seu efeito térmico (virya) é refrescante; e o seu efeito pós-digestivo (vipaka) é doce. Em termos dos doshas, a leveza fresca de uma maçã crua tende a agravar o Vata, reduzir o Pitta e acalmar o Kapha. O sumo de maçã é usado na Ayurveda para aliviar sensações de ardor.

No entanto, a preparação pode alterar consideravelmente o efeito de um alimento. A fermentação muda a história suave da maçã. O sabor do vinagre de cidra de maçã é ácido, a sua energia é quente e o seu efeito pós digestivo é ácido. Isso inverte a imagem em termos do seu efeito nos doshas. Sendo o sabor ácido quente, o vinagre de maçã pode acalmar o Vata – e definitivamente agravará o Pitta e o Kapha.

Além disso, a forma como um alimento é preparado pode afetar a mente. Os alimentos frescos (sattvicos) são considerados mais calmantes para a mente do que os fermentados ou picantes (rajásicos). Os alimentos que passaram muito tempo em congeladores, frigoríficos, ou fornos de microondas (tamásicos) podem enfraquecer a nossa energia.

A Índia tem uma longa tradição de usar medicinalmente ervas fermentadas na forma de arishtas e asavas (tónicos fitoterápicos fermentados ayurvédicos). No entanto, a maioria dos profissionais ayurvédicos tradicionais que viviam na Índia evitariam recomendar o vinagre de maçã rajásico como uma ajuda digestiva. É quente, é fermentado e pode provocar irritações na pele. Alguns especialistas em Ayurveda que vivem em climas frios são mais propensos a dedicarem-se a recomendar os alimentos fermentados.

O vinagre de maçã é um tónico natural para a saúde, e tem vários benefícios suportados por estudos científicos. De qualquer forma, têm surgido alguns relatos de efeitos colaterais do vinagre de maçã, sobretudo quando consumido em grandes doses.

Os efeitos colaterais de vinagre de cidra de maçã

O vinagre de maçã tem demonstrado atrasar a velocidade com que o alimento deixa o estômago. Isso pode piorar os sintomas de gastroparesia e dificultar o controle do açúcar no sangue para pessoas com diabetes tipo 1. Apesar de ajudar a reduzir o apetite, também pode causar náuseas, especialmente quando consumido como parte de uma bebida pouco saborosa. O ácido acético no vinagre pode enfraquecer o esmalte dental e levar à perda de minerais e cáries dentárias. O vinagre de maçã tem o potencial de causar queimaduras esofágicas (garganta). Alguns pesquisadores recomendaram que o vinagre seja considerado uma “potente substância cáustica” e mantido em recipientes à prova de crianças. Alguns medicamentos podem interagir com o vinagre de maçã, incluindo insulina, digoxina e certos diuréticos.

É importante considerar que cada corpo funciona de forma muito particular, pelo que se recomenda o aconselhamento especializado em Ayurveda, na integração de alimentos fermentados na alimentação.

TEXTURA, CONSCIÊNCIA E SENSAÇÃO: AS VANTAGENS DE COMERMOS COM AS MÃOS

Segundo a Ayurveda, a ingestão dos alimentos com as mãos estimula as terminações nervosas dos dedos, tornando a ingestão de alimentos mais consciente das texturas, do sabor e dos aromas, enriquecendo os sentidos com informação, conhecimento e assimilação.

A tradição de comermos com as mãos nasce nos primórdios da Humanidade, adotada pela maioria das civilizações, incluindo o vale do Indo, os Gregos e os Egípcios. Embora a maioria das pessoas se tenha habituado a comer com talheres, o hábito de comer com as mãos subsiste ainda espontaneamente em várias culturas. Nos Vedas, as mãos são descritas como órgãos preciosos de reconhecimento de sensações, sendo os dedos extensões que exprimem a qualidade dos cinco elementos e dos chakras.

Segundo a Ayurveda, nós somos aquilo que comemos e assimilamos; assim, acredita-se que a ingestão dos alimentos com as mãos estimula as terminações nervosas dos dedos aumentando a digestão, tornando a ingestão de alimentos mais consciente das texturas, do sabor e dos aromas, enriquecendo os sentidos com informação, conhecimento e assimilação.

Na visão védica o alimento é sagrado. Deste modo, o hábito de tocarmos com as mãos o alimento é uma forma de honrarmos e trazermos mais consciência à substância que é a base daquilo em que nos vamos tornar.

A ingestão de alimentos com as mãos traz algumas vantagens que podem melhorar o nosso quotidiano, nomeadamente o estímulo da circulação sanguínea, ajudando a manter o fluxo sanguíneo mais suave.

Ao comemos com as mãos, o movimento e o toque ativam os chakras trazendo benefício a vários níveis. Quando os dedos colocam a comida na boca, nós realizamos inconscientemente uma mudra com a mão curvada, que ativa os órgãos sensoriais que mantêm o prana em equilíbrio. O alimento é assim bem digerido porque quando a mão toca a comida os nervos nas pontas dos dedos experimentam a informação que a mesma lhe passa, e enviam sinais ao cérebro que instruí o corpo a libertar as enzimas digestivas apropriadas àquele alimento.

Sendo fundamental lavar as mãos antes e depois de as usarmos para comermos, acredita-se que quando comemos com as mãos a flora amigável no intestino é estimulada aumentando a resposta natural de proteção do nosso sistema digestivo. Na verdade, a ingestão com as mãos pode ser mais, mais higiénica que a utilização de talheres e pauzinhos, já que podemos sentir a sensação de limpeza ou não nas mãos, e reforçá-la em caso de necessidade.

Têm também sido realizados alguns estudos que demonstram que quando comemos com as mãos ficamos naturalmente mais facilmente saciados, prevenindo a tendência para a ingestão excessiva de alimentos. Também por isso, considera-se que a ingestão de alimentos com as mãos contribui para a perda de peso, por permitir um ajuste na velocidade com que se ingere os alimentos (libertando a tendência da ingestão mecânica), gerado uma melhor gestão das porções de comida ingeridas, e aumentando a atenção e a qualidade  naquilo que se come.

A temperatura do alimento é uma das informações que fica rapidamente acessível quando ingerimos com as mãos, evitando-se a sensação de queimadura na língua. A ingestão dos alimentos com as mãos estimula fortemente os nossos sentidos, aumentando o prazer de comer, e a tendência a escolhermos e experimentarmos comida melhor e mais agradável. Desse hábito nasce a escolha de comermos conscientemente, em conexão com as qualidades e sensações mais naturais e imediatas do alimento.

VISÃO E AYURVEDA: PARA A CONTEMPLAÇÃO CLARA E EQUILIBRADA DA VIDA

Ter visão é também ter Visão. A capacidade de vermos, observarmos, contemplarmos com clareza, é aquilo que mais facilmente nos ajuda a traçar um objetivo, escolhermos uma direção, palmilharmos um caminho. Afinal os olhos são as janelas da alma.

Na Ayurveda a visão é reconhecida como uma fonte de conexão e aprendizagem, uma porta de entrada para a beleza e inspiração que a Vida proporciona. Os olhos são o lar do Alochaka Pitta, governados pelo Sol, ardentes, e por isso mesmo, altamente sensíveis ao excesso de calor e de secura.

Tomamos naturalmente por garantida a capacidade de ver. A visão é o sentido predominante na nossa observação e vivência quotidiana. Contudo, o nosso estilo de vida atual tende a exacerbar a utilização da visão através do uso constante de dispositivos, computadores e ecrãs de telemóvel que emitem luzes duras e radiação eletromagnética que ferem a vista e encandeiam subtil e constantemente a retina. Além disso passou a ser habitual as pessoas passarem longas horas em frente a um ecrã, colocando-se bastante tensão e pressão no uso dos olhos, o que tem vindo a produzir a uma crescente degeneração da visão na população em geral.

Mimar os olhos com a Ayurveda

Mimar os olhos é fundamental na Ayurveda, tendo por isso sido criados vários medicamentos internos e externos, e também procedimentos para cuidar e prevenir a degeneração da visão. O Netra Tarpanam ou Netra Basti, em que netra significa olho, tarpana significa nutrição, e basti significa retenção de óleo com o propósito de nutrir, tem o propósito de trazer alimento para os olhos.

Durante o netra basti, o ghee medicamentado é liquefeito e após a filtragem, o medicamento é derramado no canto medial do olho fechado até o nível dos cílios. O líquido é mantido no lugar por um limite de pasta de ervas ou barragem, construída ao redor da cavidade ocular. Uma vez cheios de ghee, os olhos devem ser abertos e fechados lentamente. O ghee medicado deve ser mantido por um tempo específico (até 25 minutos) dentro deste limite da pasta de ervas. Podem ser usados o Triphala ghee ou o Brahmi ghee. Este procedimento é altamente eficaz na redução de sintomas como dor e tensão ocular, dores de cabeça recorrentes, olhos secos e problemas de visão. Tem efeitos curativos e preventivos.

Alimentar os olhos

De forma a manterem-se os olhos fortes e bem lubrificados, é importante adicionar alguns alimentos à nossa dieta:

Vegetais de folhas verdes escuras

Os carotenóides luteína e zeaxantina são encontrados principalmente em vegetais de folhas verdes como espinafres, mostarda e couve. Estes atuam como nutrientes importantes para a saúde ocular, uma vez que a mácula, a pequena porção central da retina, apresenta ambos em altas concentrações, além de  desempenharem um papel protetor contra a catarata, degeneração macular relacionada com a idade.

Gemas de ovos

A gema é uma fonte principal de luteína e zeaxantina e também possui um rico suprimento de zinco. Os ovos devem ser ingeridos com a gema pouco cozida, de modo a preservarem-se as proteínas do ovo.

Cenouras

A cenoura é uma rica fonte de betacaroteno, importante para os olhos saudáveis. Comer cenouras cozidas em leite é um remédio ayurvédico clássico para promover a boa visão, especialmente em crianças. Juntar duas cenouras raladas e cozê-las cozidas no leite com uma vagem de cardamomo moída e cinco amêndoas moídas, a serem tomadas diariamente.

Frutos vermelhos | Groselhas, amoras e mirtilos

As antocianinas ou fitoquímicos com propriedades antioxidantes encontradas em frutos como a groselha preta, as amoras pretas e os mirtilos são especialmente bons para os olhos. Alguns estudos mostraram que as antocianinas podem estimular a regeneração da rodopsina, uma proteína na retina que pode ajudar a ver com pouca luz, além de ajudarem aliviar problemas temporários de visão, e prevenir ou aliviar o cansaço visual.

Goiaba

O licopeno – encontrado na goiaba, melancia e tomate – pode ajudar a prevenir a catarata.

Citrinos

Os cítricos são uma rica fonte de vitamina C, um nutriente importante para os olhos saudáveis.

Amêndoas

Um punhado de amêndoas suprirá quase metade da necessidade diária de vitamina E.

Ghee ou manteiga clarificada

Tomar 1-2 colheres de chá de ghee ou manteiga clarificada todos os dias pode ajudar a equilibrar o Pitta e melhorar a visão.

Plantas para os olhos

Na Ayurveda existe uma conexão intrínseca entre a saúde dos olhos, a função do fígado e o Pitta, e, por isso mesmo os remédios gerais usados para reduzir o Pitta podem ser muito úteis, incluindo a Amalaki (Phyllanthus emblica), o rizoma de açafrão (Curcuma longa), a Shatavari (Asparagus racemosa) e  a raiz de bérberis (Berberis spp.). A Triphala, uma fórmula à base de plantas contendo os frutos mirromobalano preto (haritaki), mirobalano belérico (bibhitaki) e groselha indiana (amalaki), pode ser útil para melhorar a visão fraca. A Triphala ghee – ghee feito com triphala, noz de Malabar e margarida falsa (bhringraj) – funciona como um tónico para os olhos e também pode ajudar a tratar a conjuntivite. Também se usa a água de neem para lavar os olhos e tratar a conjuntivite.

Técnicas de relaxamento ocular

Descansar a vista ainda é das melhores formas de a aumentar.  Alguns estudos realizados mostraram que as pessoas mais relaxadas têm tendência a pestanejar mais vezes, humedecendo e lubrificando de forma mais saudável os seus olhos. Existem várias técnicas que proporcionam o relaxamento ocular:

Pestanejar mais vezes

Lembrar-se de pestanejar os olhos para relaxá-los e lubrificá-los. Pestanejar a cada poucas linhas ao ler (num ecrã), ou no mínimo três vezes por página. Em alternativa pode desviar o olhar do livro ou do ecrã periodicamente para pestanejar. Piscar ajuda a relaxar e lubrificar os olhos.

Exposição ao sol

Banhos de sol, ao nascer e pôr do sol, fornecem uma maravilhosa fonte de energia para os olhos, ajudando a aumentar a circulação sanguínea nos olhos. De olhos fechados, queixo erguido, numa confortável postura sentada, voltar-se para o sol e balançar corpo de um lado para o outro por um período de 50 segundos ou 3 minutos. Por outro lado, proteger os olhos do excesso de calor, e da luz solar direta, evitar o cansaço visual e limitar a exposição a monitores de computador e a ecrãs com luz de fundo.

Palmas das mãos

Cobrir os olhos com as palmas das mãos ajuda a reduzir o stresse e a tensão. Sentar-se confortavelmente, cruzar os dedos enquanto suporta a testa. Esfregar as palmas das mãos por alguns segundos para aquecê-las. Colocar delicadamente a mão direita sobre o olho direito e a mão esquerda sobre o olho esquerdo, com o calcanhar da mão na cavidade orbital inferior. Inclinar cada mão em direção ao nariz para que os dedos mindinho e indicador se sobreponham. Manter a sobreposição e colocar as pontas dos dedos na testa superior. Fechar todas as lacunas para filtrar toda a luz. Por estarem no escuro é proporcionado  aos olhos um descanso rápido, mas profundo, que bloqueia a estimulação externa e cuida dos olhos cansados e embaciados. Fazer isto por sete minutos. Adicionar uma gota de óleo essencial de rosa nas mãos e esfregar antes de cobrir os olhos. A rosa que tem um efeito calmante sobre a visão.

Movimento

Mover conscientemente os olhos de um ponto para outro. Fazer pausas regulares para descansar os olhos, sobretudo quando se passam várias horas a trabalhar com o computador. Ou balançar, com os braços estendidos, balançar o corpo da direita para a esquerda lentamente, olhando na direção do movimento do corpo. O balançar ajuda a mudar o foco.

Exercício de vela | Tartaka

O Tartaka é um exercício de observação de uma vela acesa que melhora a concentração e o foco. Sentar-se confortavelmente diante da chama de uma vela colocada a 50 cm. Olhar para a chama até as lágrimas começarem a formarem-se e fechar os olhos. Manter a concentração com os olhos fechados. A imagem da chama pode surgir na mente. Quando a imagem começar a desvanecer, concentrar a atenção no fluxo da respiração e continuar observando a respiração por 7-8 minutos, com os olhos fechados.

Pano fresco

Fechar os olhos e aplicar um pano frio sobre eles. Isto vai acalmar os olhos. Pode ser embebido numa infusão de camomila.

Aplicar água de rosas

Mergulhar uma rodela de algodão numa solução de água de rosas. Deitar-se ou sentar-se e inclinar-se para trás, para que o rosto fique para cima e para trás. Colocar os absorventes saturados com a água de rosas sobre os olhos e descansar por alguns momentos. Também pode usado gel de aloé vera esfriar e acalmar. Tanto a rosa como o aloé vera são refrescantes e ajudam a equilibrar os Pitta nos olhos.

Lavar os olhos todos os dias

De acordo com a prática ayurvédica, os olhos devem ser lavados com água fria pela manhã para remover os resíduos acumulados durante a noite. Lavar os olhos pela manhã com uma infusão filtrada de Triphala churna. Pode ser usado um colírio ou anjana para limpar os olhos que tem um efeito calmante. Salpicar os olhos com água fria ajuda a relaxá-los. Deixar os olhos secarem sozinhos.

Caminhar na natureza

Fazer uma caminhada de apenas 15 minutos, três dias por semana, pode prevenir o glaucoma. O exercício físico moderado – que pode ser de apenas 15 a 20 minutos, três vezes por semana – pode diminuir a pressão e aumentar o fluxo sanguíneo para o nervo óptico e a retina.

Fazer círculos oculares

Colocar uma pequena quantidade de óleo de coco na ponta do dedo mindinho. Circular lentamente a ponta do dedo a partir do sulco ocular interno, sob a sobrancelha ao redor do olho externo e de volta ao olho interno. Evitar puxar ou arrastar a pele. Usar uma pressão leve e firme. Repetir 5 a 10 círculos para cada olho. Usar apenas o óleo necessário para minimizar o atrito na pele. O coco tem ação refrescante, e o movimento circular ajuda a mover a linfa para dentro e para fora da área dos olhos.

Yoga ocular

O yoga também traz benefícios para os olhos, e as posturas de yoga são muito simples. Começar por pestanejar, piscar, colocar as mãos e girar o globo ocular em direções diferentes. Alguns especialistas recomendam o seguinte conjunto de exercícios, semelhante aos exercícios para os olhos: mover os olhos para cima e para baixo sem piscar – pense em olhar para um relógio à sua frente e traçar uma linha entre as 12h e as 6h. Após cerca de 10 repetições deste exercício, esfregar as palmas das mãos e cobrir os olhos para sentir o calor passar. Acompanhar esse momento movendo os globos oculares horizontalmente, das 9h para 3h, e na diagonal, das 2h para 7h e das 11h para 4h. Estes exercícios podem ajudar a aliviar a pressão extra que exercemos sobre os músculos ao olhar para objetos próximos, como um livro ou tela do computador.

TRIPHALA: A BÊNÇÃO AYURVÉDICA PARA O METABOLISMO

Existem poucas ervas na Ayurveda que incluem todos os cinco sabores diferentes (doce, ácido, salgado, amargo e picante). Quanto mais concentrado o sabor, mais ampla e eficaz é a fórmula para equilibrar os três doshas.

A Triphala, como o nome sugere, é uma combinação de três frutos (Tri significa três e Phala significa fruta).  A fruta é a essência da própria árvore. Esses três frutos têm propriedades curativas diferentes, em parte devido aos seus cinco sabores diferentes. A Triphala  também é conhecida pelos nomes de Phalatrik ou Vara, significa “bênção”, e  Sreshtha, que significa “o melhor”. Triphala é uma bênção na sua verdadeira essência, porque acredita-se que a Triphala cuida dos órgãos internos da mesma forma que uma mãe cuida dos seus filhos.

Na fórmula da Triphala, os frutos Haritaki, Amalaki e Bibhitaki são misturados em quantidades iguais. A Bibhitaki é boa para o Kapha, a Amalaki é boa para o Pitta, e o Haritaki é boa para o Vata. Quando estas três frutas se combinam, a fórmula torna-se um maravilhoso Rasayana, que rejuvenesce o corpo todo.  A Triphala é tridóshica já que pacifica o Kapha, o Pitta, e parcialmente o Vata. Existem poucas ervas na Ayurveda que incluem todos os cinco sabores diferentes (doce, ácido, salgado, amargo e picante). Quanto mais concentrado o sabor, mais ampla e eficaz é a fórmula para equilibrar os três doshas.

O Vata, Pitta e Kapha são as três bioenergias (ou doshas),  ayurvédicos, ou seja, constituem os princípios fundamentais da fisiologia ayurvédica. Quando as bioenergias estão em equilíbrio, usufruímos de boa saúde. Quando eles estão fora de equilíbrio, nós experimentamos a doença. A Triphala é uma fórmula ayurvédica que resolve muitos dos desequilíbrios das três bioenergias.

As frutas

A Amalaki é benéfica para o coração, a Haritaki beneficia o fígado, e a Bibhitaki é boa para os pulmões. Juntas, as três frutas agem como boas amigas, trazendo ao de cima o melhor de cada uma. O efeito sinérgico é  o conceito base da farmacologia ayurvédica. A sinergia permite potencializar ou aumentar o efeito da erva, ou neste caso, da fruta. A Triphala trabalha assim em todas as partes do corpo, desde o cérebro, os rins, o baço, e  tudo o resto, ligando todos os pontos. Embora a maioria dos suplementos de triphala incluam partes iguais de haritaki, bibhitaki e amalaki, também existem outro tipo de formulações com diferentes combinações destas três frutas para tratar diferentes condições de saúde, como a inflamação, problemas oculares, e outros, e o seu benefício pode ser incrementado através do condutor que é utilizado para a sua toma, seja ele o soro de leite, a água quente, o ghee ou o mel.

Com a utilização destas frutas vai-se tornando claro que elas são por si só bastante inteligentes. E quando se utilizam ervas que são inteligentes, observamos que elas sabem exatamente o que fazer, e aonde ir em qualquer fisiologia, e qualquer sistema. Por isso mesmo, a Triphala é também conhecida como uma formulação adaptogénica, sendo capaz de ajudar o organismo a calibrar-se e equilibrar-se, tornando-o capaz de se ajustar perante as diferentes necessidades do corpo, e os diferentes desafios da vida quotidiana.

A Amalaki (Emblica officinalis) é considerada o fruto da imortalidade. A Amalaki é amrita, o néctar vital ou essência do universo. A Amalaki é constituída por centenas de fitonutrientes diferentes, sendo também um dos principais ingredientes de uma maravilhosa fórmula ayurvédica, o Chyanwanprash. O Chyanwanprash é um potente tónico rasayana e antioxidante, com propriedades que previnem o envelhecimento e promovem a eliminação de radicais livres. É uma forma estável de vitamina C, rica em taninos que têm benefícios antioxidantes.

Regula o jatharagni ou fogo metabólico sem afetar o sistema digestivo, onde a maioria dos antiácidos suprime o apetite, o que afeta a digestão. Ajuda na recuperação de úlceras, hiperacidez, inflamação e sensação de ardor. A Amalaki e é uma das melhores ervas para reduzir a raiva. É muito boa no tratamento da diabetes, tendências para hemorragias, e hemorragia indesejada pelo nariz, reto ou em casos de   hemorragia menstrual intensa. Ela regula o sistema imunológico, e é imunomodeladora. É considerada excelente para construir sangue e melhorar a qualidade dos vasos sanguíneos, e a natureza dos glóbulos vermelhos. Melhora a vitalidade sexual.

A Haritaki (Terminalia chebula) é uma fruta muito interessante. Há mais volumes escritos sobre haritaki e amalaki, embora amalaki seja uma rasayana mais reverenciada. No entanto, haritaki é uma rasayana ainda mais poderosa que a amalaki de várias formas. O outro nome para haritaki é ‘abhaya’, que significa destemido. Dissipa o medo da morte, da morte, das doenças, e traz clareza. Encontram-se imagens do Buda da Medicina a meditar com a haritaki nas suas mãos. A Haritaki tem uma qualidade maternal amorosa e carinhosa. Embora tenha uma potência de aquecimento, é uma rasayana versátil. É boa para a limpeza, a desintoxicação e o rejuvenescimento.

A Bibhitaki (Terminalia belerica) é a terceira fruta da fórmula. Tem uma boa ação de raspagem ou qualidade de lekhana. Actua sobre qualquer crescimento indesejado, tumor, peso e gordura. A Bibhitaki é   adequada para todos os problemas relacionados com o Kapha – tosse, muco, congestão, ganho de peso, peso, excesso de gordura, sensação de muito frio, e libertação de parasitas.

Benefícios da Triphala

A Triphala tem um efeito sáttvico ou purificador e esclarecedor sobre a mente, beneficiando também a saúde física, emocional e espiritual da pessoa, aliviando a depressão e a ansiedade, e sendo também uma excelente erva para aliviar sentimentos de raiva.

O primeiro grande benefício da triphala é a prevenção do envelhecimento. Tem sido demonstrado que prolonga as enzimas teloméricas.  Os telómeros são enzimas que estão na extremidade plana do ADN, e que impedem que ele se desfaça. Quando o telómero está mais longo, é um sinal de que se vai regenerando, e quando  fica mais curto, é um sinal de envelhecimento prematuro. Foi estudado e publicado que a Triphala alonga a telomerase. Ao nível do ADN, tem um efeito de regulação e modulação génica, regulando os genes que são bons, e tendo uma ação vigilante sobre os genes que são prejudiciais ao corpo, revelando assim a sua inteligente propriedade adaptogénica.

Uma pesquisa sobre a Triphala demonstra também a sua atividade anti-cancerígena, devido à sua atividade antioxidante, libertadora de radicais livres, e pela sua atividade anti-mutagénica, que previne e reduz o cancro.

As três frutas juntas são analgésicas e potencializam o redução da dor e os bloqueios indesejados no sistema. Regulam a pressão sanguínea e melhora a função hepática. A combinação de triphala e especialmente amalaki, é um ótimo tónico para o fígado, melhorando as vias de desintoxicação tanto do fígado como da vesícula biliar. Regula o açúcar no sangue e a secreção de insulina, por isso também é benéfico para o pâncreas, prevenindo e regulando a resistência à insulina.

A Triphala é benéfica para a digestão e eliminação. Ela atua como um tónico laxativo e digestivo, e fornece uma fonte de antioxidantes e vitamina C. É naturalmente antibacteriana, por isso elimina as infecções e regula o sistema imunológico, agindo como prevenção. A Triphala é usado externamente na cicatrização de feridas e também está disponível em pó ou creme.

O óleo de Triphala é usado para o crescimento do cabelo, tanto em fórmulas de lavagem do cabelo,  em óleo, com ghee medicado, em pasta para os olhos e como uma mistura para extração de óleo. Pode ser usada numa grande diversidade de formatos diferentes – cremes, loções, pós em pó, enemas. É muito versátil porque é absorvida de forma fácil e segura, e tem benefícios medicinais em todos os formatos.

Como e quando tomar Triphala

As frutas que constituem a Triphala dificilmente são frutas comestíveis como as uvas ou as mangas. São frutas muito amargas e adstringentes plenas de taninos. Como tal, a Triphala é habitualmente tomada em pó, denominado de Triphala Churna. Segundo a Ayurveda, a acção e benefício dos alimentos e ervas são descodificados pelo seu paladar, usando como órgão de reconhecimento a língua. Quando a toma é feita com cápsulas ou comprimidos, o sabor da fórmula fica oculto do paladar, inibindo de certa forma o correto reconhecimento da erva, e como consequência, a sua plena absorção e efeito.

Para processos de libertação e eliminação, pode ser tomada à noite, resultando num suave efeito laxante ou de limpeza pela manhã. A toma à noite é também recomendada para benefício dos pulmões e do sistema respiratório, já que liberta o acumulo de muco de manhã. Este é também o melhor momento para a toma da triphala quando a intenção é estabelecer ou estabilizar a flora intestinal, permitindo que o corpo possa digerir e absorver adequadamente os nutrientes, criar movimentos intestinais bem formados, e excreções de boa aparência.

Quando o intuito é accionar a regulação dos níveis de açúcar no sangue, ou como um rasayana, é mais recomendável durante o dia. Idealmente, a triphala deve ser tomada logo de manhã, num momento à parte da refeição, potencializando o seu efeito na queima de gordura indesejada e perda peso. A Triphala administrada com açafrão da índia é especialmente eficaz na redução dos níveis de açúcar no sangue, sendo também um dos melhores agentes redutores do colesterol, e reguladora dos níveis lipídicos.

Os efeitos secundários da Triphala

A Triphala foi formulada de modo a ter efeitos secundários mínimos. Contudo, em alguns organismos mais sensíveis, ela pode secar o corpo, recomendando-se nesse caso a ingestão de mais água. As mulheres grávidas devem evitar tomar Triphala, pois tem uma energia que flui para baixo (Vata), que pode estimular um aborto espontâneo. Aqueles que tomem medicamentos para diluir o sangue devem usar Triphala com cautela.

Algumas pessoas experimentam um aumento em distúrbios intestinais, inchaço e flatulência como um efeito colateral de tomar triphala, embora isso seja geralmente apenas um efeito temporário. A maioria das pessoas relata menos problemas estomacais e gases após algumas semanas de uso, como consequência do efeito de limpeza da Triphala.

Algumas pessoas podem de vez em quando experimentar os sintomas de refluxo esofágico ao tomar Triphala, contudo isso deve-se simplesmente à sua inadequada administração. Todas as recomendações acima mencionadas devem ser adequadas à constituição particular da pessoa, pelo que deve ser consultado um médico ou terapeuta ayurvédico antes da sua utilização.

ALERGIAS E AYURVEDA: PARA UMA PRIMAVERA MAIS CALMA

As alergias tornaram-se cada vez mais comuns. Fisicamente são desequilíbrios que podem surgir subitamente, variando a sua resposta entre uma sensação ligeiramente desconfortável e uma reação que pode ser fatal. Embora as reações alérgicas geralmente ocorram repentina e agudamente, a ayurveda ajuda a revelar a forma como a tendência para uma reação se agrava no corpo. Conheça ainda ervas para o tratamento de alergias.

A alergia e a mente

Na mente, a alergia revela uma forma de defesa do corpo quando se confronta com algo externo que se assume como ameaçador (quando na verdade, é muitas vezes algo inócuo). Na sua mente a pessoa sente-se de alguma forma agredida, construindo por isso uma couraça protetora. A origem da alergia pode ter sido marcada por um acontecimento emocional significativo em que interiormente a pessoa associou uma substância inofensiva a uma situação emocionalmente dolorosa. A pessoa alérgica é convidada a aprender a confiar na vida, e a libertar-se dos seus receios e debilidades para desbloquear a sua alergia.

A alergia na ayurveda

A manifestação alérgica é mencionada sob o conceito de Saatmyaasatmya na Ayurveda. Satmya são as substâncias que o organismo tolera e as quais está habituado a assimilar devido a um consumo regular. Estas substâncias trazem conforto, ao mesmo tempo que mantêm a saúde dos tecidos, e tornam o anormal em normal; satmya são os chamados bons alimentos. Asâtmya são substâncias não toleradas pelo organismo, e que geram hipersensibilidade, reacções tóxicas e alérgicas quando tomadas em determinadas quantidades. Após a ingestão de alimentos não tolerados tornam-se visíveis sintomas de doença no organismo. Alguns alimentos como o sal, as pimentas e medicamentos não são tolerados pelo organismo em grandes quantidades, e não é possível ganhar habituação aos mesmos, mesmo com o uso prolongado. É conveniente evitar-se o uso excessivo dessas substâncias.

Uma alergia pode acontecer devido a um desequilíbrio inerente do dosha causado por fatores internos e externos. Internamente, alergias manifestam-se devido à exposição a Asaatmya ahara-vihara. Isso significa aquilo que é incompatível com um indivíduo em particular. Eles também podem resultar de virudha ahar (alimentos incompatíveis consumidos simultaneamente), ama (toxinas alimentares formadas devido à digestão incompleta) e vihar (um estilo de vida pouco saudável). Externamente, o contato com diferentes materiais tóxicos ou alérgenos pode causar reações na forma de alergias.

Como resultado desses fatores causais, o Kapha e o Pitta, juntamente com o rasa, que é o plasma e outros sistemas de fluidos inter e intracelulares, incluindo a linfa e o rakta (tecido sanguíneo), podem ficar desequilibrados.

As três bioenergias e as alergias

Se o Vata também estiver aumentado a reação alérgica é aguda devido aos fatores acima mencionados, como no caso de rinite alérgica, asma e anafilaxia (reação alérgica extrema). A manifestação também pode incluir sintomas de constrição, como o chiado, que é devido ao estreitamento da árvore brônquica ou dor de cabeça, bem como espirros, zumbidos nos ouvidos, uma queda na pressão arterial e outros desconfortos do tipo Vata.

As alergias agravadas com Pitta geralmente ocorrem quando as qualidades quentes e afiadas de um alérgeno entram em contato com a pele e, posteriormente, entram na corrente sanguínea. Por conseguinte, as alergias predominantes em Pitta são frequentemente reações à pele tais como urticária, erupção cutânea, comichão, dermatite alérgica, eczema e podem também envolver olhos vermelhos. No trato gastrointestinal, as alergias a Pitta podem causar azia, indigestão ácida, dores de estômago, náuseas ou vómitos. Os sintomas de reações alérgicas na pele são mencionados como Sheetapitta-Udarda-Kotha, marcado por erupções cutâneas.

As alergias do tipo Kapha são as mais prováveis de serem exacerbadas durante a primavera, devido ao ataque de alérgenos à base de pólen. Os sintomas da alergia Kapha incluem irritação das membranas mucosas, febre dos fenos, erupções pruriginosas, tosse, sinusite, retenção de frio e água. Estes tipos de alergias podem ser agudos se acompanhados com o Vata, ou podem ser uma reação latente do corpo aos alérgenos.

Tratamentos caseiros para a alergia

Existem muitos remédios caseiros, naturais e à base de plantas para a pele, nariz, olhos e outras partes do corpo:

  • Água quente gargarejada com sal.
  • Para os olhos inflamados, usar uma mistura de cal, malvas e infusão de camomila.
  • Marmelo, Mel e Gengibre mostram um bom impacto na garganta.
  • A irritação dos olhos pode ser reduzida com uma lavagem com água fria.
  • Mantenha-se longe de alérgenos.
  • Um banho quente é eficaz para afastar alérgenos.
  • Use óculos de sol para proteger os olhos do pólen, ácaros e poeira.
  • Os ácaros da poeira favorecem locais húmidos que podem desencadear uma alergia.
  • Para um nariz congestionado e inflamatório, o uso de uma infusão de hortelã-pimenta pode ajudar.
  • Uma pasta de sândalo com sumo de limão, pode ajudar as áreas afetadas da pele.
  • Sumo de cenoura, ou uma combinação de sumo de cenoura com sumos de beterraba e pepino pode ajudar.
  • Espremer meio limão num copo de água morna e adoçar com uma colher de chá de mel. Para além de libertar o corpo de toxinas, também atua como um agente anti-alérgico.
  • Tome 5 gotas de óleo de rícino em meia chávena de qualquer sumo de frutas ou vegetais, ou tome água pura com o estômago vazio pela manhã. Ou misture uma parte de curcuma e duas partes de pó Amla. Guarde num frasco de vidro. Tomar uma pequena colher de chá duas vezes por dia com água.

Ervas para tratamento de alergias em ayurveda

De acordo com os textos ayurvédicos, a dravya (substância) que as ervas que atuam contra as substâncias tóxicas são chamadas Vishghna (anti-tóxico). Estas ervas foram descritas para o manejo de diferentes doenças causadas por vish (toxinas), como alergias. Elas têm um papel muito bom em distúrbios alérgicos e são capazes de quebrar a patogénese da anurjata (alergia).

  1. Curcuma (Curcuma Longa)

A curcumina tem supostamente efeitos antialérgicos e pode inibir a libertação de histamina dos mastócitos. Esses resultados comprovam que a curcumina é útil no tratamento de doenças alérgicas e inflamatórias relacionadas com a histamina ou mastócitos.

  1. Manjistha (Rubia Cordifolia)

Os extratos de Rubia cordifolia reduziram as reações anafiláticas em ratos alérgicos ao amendoim, sugerindo um potencial como tratamento alergénico. Antioxidante, antibacteriano, anti-cancerígeno, anti-inflamatório, anti-tumoral, antiviral, hemostático, atividade peroxidativa anti-lipídica e atividades hipoglicémicas foram encontradas também.

  1. Cardamomo (Shookshma Elaa, Elettaria Cardamomum)

Um estudo mostra que há atividade anti-inflamatória do óleo extraído de sementes comerciais de cardamomo. Além disso, possui atividade analgésica e antiespasmódica.

  1. Sândalo (Chandan, álbum de Santalum)

O óleo de sândalo branco possui um agente anti-inflamatório, antimicrobiano e antiproliferativo. O óleo de sândalo branco também se mostrou promissor em ensaios clínicos para o tratamento da acne, psoríase, eczema e verrugas comuns.

  1. Chá verde e infusão de camomila

Ambos contêm anti-histamínicos naturais e podem ajudar a equilibrar o sistema imunológico. O chá verde é embalado com um poderoso antioxidante reduzindo os sintomas de alergia.

  1. Mel de pólen de bétula

Ingerir um pouco de mel cru todos os dias ajuda a controlar as alergias sazonais, e a construir uma tolerância ao pólen local que atrapalha os sinus. Esta ingestão pode ser feita como prevenção.

Tratamento das alergias com formulações ayurvédicas clássicas

Trikatu

O Trikatu é uma fórmula ayurvédica tradicional que contém três ervas: pimenta preta, pimenta longa e gengibre. Esta combinação é conhecida pela sua capacidade de estimular o agni, digerir a ama (toxinas alimentares), apoiar a respiração clara, rejuvenescer os pulmões, equilibrar a produção de muco, limpar a mente e apoiar o metabolismo adequado. Esta fórmula é tradicionalmente misturada em mel cru para formar uma pasta. Por ser bastante quente, o Trikatu não é recomendado quando o Pitta está alto, e em geral não é apropriado durante a gravidez.

Haridrakhand

O Haridrakhand é uma fórmula ayurvédica tradicional cujo ingrediente principal é o açafrão-da-índia (Haridra). Esta fórmula também contém pimenta, cardamomo e groselha indiana (Ashwagandha). De acordo com o Bhaisajya Ratnavali, a principal indicação de Haridrakhand é comichão e as erupções cutâneas ou manchas vermelhas. Pode ser útil em todos os tipos de desordens da pele caracterizadas pelos seguintes sintomas: urticária, inflamação, pequenas inchações na pele, vazamento de líquido da pele, comichão, mau cheiro da pele devido a qualquer doença subjacente e pele inchada. É usado em várias doenças da pele, como comichão, infestação de vermes e pode ser útil em alergias de pele. Isto torna a pele radiante. O Haridrakhand pode ser usado independentemente da dominância do Dosha.

Sitopaladi Churna

O Sitopaladi churna é uma popular formulação ayurvédica poli-herbácea usada em alergias e doenças respiratórias. Um estudo justificou o uso clássico da sua reivindicação anti-alérgica, realizando a atividade estabilizadora de mastócitos. Pode ser usado em distúrbios alérgicos.

Outras ervas para tratamento de alergias

Urtiga (Urtica dioica)

A Urtiga tem qualidades anti-inflamatórias que afetam uma série de receptores-chave e enzimas em reações alérgicas, prevenindo os sintomas da febre do feno se tomadas quando aparecem pela primeira vez. As folhas da planta contêm histamina, o que pode parecer contraproducente no tratamento da alergia.

Ashwagandha (Withania somnifera)

Esta erva é muito popular na redução da inflamação de todos os tipos, incluindo alergias. Segundo o fitoterápico moderno, Ashwagandha contém withaferin e withanolides, que são esteróides naturais e estabilizam reações alérgicas.

Óleo de menta

Inalar o óleo de hortelã-pimenta difundido pode muitas vezes desentupir os seios nasais e oferecer alívio à garganta arranhada. A hortelã pimenta atua como expectorante e proporciona alívio para alergias, constipações, tosse, sinusite, asma e bronquite. Tem o poder de libertar a fleuma e reduzir a inflamação – uma das principais causas de reações alérgicas. Tem efeitos anti-inflamatórios reduzindo os sintomas de distúrbios inflamatórios crónicos, como a rinite alérgica e asma brônquica.

Coentros

Vários estudos mostraram que o coentro tem fortes propriedades anti-histamínicas que podem reduzir os efeitos desconfortáveis das alergias sazonais e da febre do feno (rinite). O seu óleo também pode ser usado para reduzir as reações alérgicas causadas pelo contato com plantas, insetos, alimentos e outras substâncias. Internamente, pode evitar anafilaxia, urticária e o inchaço perigoso da garganta e das glândulas.

Alho

O alho é um alimento anti-histamínico que tem a capacidade de ajudar a aliviar e tratar os sintomas de alergia, como dificuldade para respirar, o nariz entupido, espirros e olhos lacrimejantes. O alho é um dos melhores descongestionantes naturais que ajuda a aliviar a pressão dos sinus devido ao forte aroma que tem. Também ajuda a aliviar tosse no peito, urticária, erupções cutâneas, comichão na pele e olhos inchados. As quantidades elevadas de antioxidantes e óleos essenciais do alho são o que ajuda a impulsionar o sistema imunitário durante as crises de alergia, por isso é capaz de combater a histamina, reduzindo a gravidade dos sintomas da alergia.

Probióticos

Os probióticos são as “boas bactérias” benéficas que vivem dentro do intestino e ajudam na defesa contra infecções, vírus, alergias e muito mais.

Todas estas sugestões devem ser seguidas apenas quando recomendadas diretamente por um praticante ayurvédico qualificado.

AYURVEDA E O FEMININO: O RITMO DOS CICLOS MENSTRUAIS

Em várias línguas as palavras menstruação e lua são as mesmas ou estão associadas. A palavra menstruação significa “mudança da lua” e “mens” é lua. Alguns camponeses alemães chamam o período menstrual de “a lua”. Em França é chamado de “le moment de la luna”.

A lua e a menstruação

A lua foi sempre considerada o marcador de tempo natural das mudanças periódicas que ocorriam em todos os reinos, era ela também que assinalava todas as etapas e padrões do eterno ciclo da vida e da morte. A sua misteriosa luz prateada apontava o momento certo para o plantio, para a colheita, para o acasalamento e para as mudanças climáticas. Os antigos gregos representavam-na como um cálice vazio que se enchia e esvaziava lentamente, representando as alterações cíclicas das emoções, reações e necessidades humanas.

A cada 28 dias a lua completa o seu ciclo de crescente a minguante. A Lua Nova marca a primeira iluminação e um fiapo fica visível no céu noturno. A Lua cresce então até o primeiro quarto, quando se pode visualizar a metade do seu disco. Continua a crescer e completa-se até atingir a Lua Cheia. Neste ponto, começa a diminuir de tamanho até o terceiro quarto, quando novamente só se vê a metade do disco e continua assim até que fique invisível. A quinta fase, a Lua Nova, dura três noites, e este é o mais poderoso de todos os ciclos da Lua.

A lua, com o seu ciclo de nascimento, crescimento e morte, é um lembrete poderoso, todos os meses, da natureza dos ciclos. Em épocas remotas, os ciclos menstruais das mulheres eram perfeitamente alinhados com os da lua. A mulher ovulava na Lua Cheia e menstruava na Lua Nova. A Lua Cheia era o ápice do ciclo da criação, era quando o óvulo era libertado. Nos 14 dias que antecedem esta liberação, as energias da criação reúnem tudo que é necessário para constituir o óvulo. Quando passava a Lua Cheia e o óvulo ficava por fertilizar, tornava-se maduro demais e decompunha-se, derramando-se no fluxo natural de sangue na Lua Nova. Quando a mulher vive em perfeita harmonia com a Terra, ela só sangra nos três dias da Lua Nova. Quando a Lua Nova emerge, o seu fluxo naturalmente deve cessar e o ciclo da criação é reiniciado dentro dela.

VEJA TAMBÉM: RITMOS DO CORPO: 12 INSPIRAÇÕES PARA UM DESPERTAR AYURVÉDICO

Em várias línguas as palavras menstruação e lua são as mesmas ou estão associadas. A palavra menstruação significa “mudança da lua” e “mens” é lua. Alguns camponeses alemães chamam o período menstrual de “a lua”. Em França é chamado de “le moment de la luna”.

Alguns índios norte-americanos consideravam a lua uma mulher, a primeira mulher e, no seu quarto minguante, ela ficava “doente”, palavra que definiam como menstruação. Os camponeses europeus acreditavam que a lua menstruava e que estava “adoentada” no período minguante, sendo que a chuva vermelha que o folclore afirma cair do céu era o “sangue da lua”.

Entre muitos povos em todas as partes do mundo as mulheres eram consideradas “tabu” (sagradas) durante o período da menstruação. Este período, para algumas tribos indígenas, era considerado um estado tão peculiar que a mulher deveria recolher-se à uma “tenda menstrual” escura – a Tenda Vermelha, pois a luz da Lua não deveria recair sobre ela. O isolamento mensal da mulher tinha o mesmo significado que os ritos de puberdade dos homens. Durante este curto espaço de tempo de solidão forçada, as mulheres mantinham um contato mais íntimo com as forças instintivas dentro de si.

Por vários motivos as mulheres acabaram impondo a si mesmas uma abstinência, muito embora, tanto nelas como nos animais, o período de maior desejo sexual é imediatamente anterior ou posterior à menstruação. Na Índia, acredita-se ainda hoje que a Deusa-Mãe menstrua. Durante essa época, as estátuas da deusa são afastadas e panos manchados de sangue são considerados como “remédio” para a maior parte das doenças.

Os antigos referem o pó da mãe lua como criadora de toda a substância da vida, sendo considerada a fonte cósmica. Definindo assim o ciclo da lua todos os ritmos, desejos, possibilidades na Terra, influenciando em grande escala também os biorritmos de uma mulher. Esta tem grande influência sobre o seu corpo, mente e espírito. O seu óvulo tem a designação de “artava”, nome o qual originário de “rtu” – estação. “Rtu” está relaciona o ritmo da vida com a dança e do culto do ritual de estações, principalmente a lunar. Com isto, quer dizer-se que a lua está associada à menstruação, corresponde como que a uma época de renascimento onde as mulheres se reuniam e faziam cultos para oferecerem o seu material gerador de vida à Terra.

As fases da lua

A Lua Crescente está associada à fase proliferativa e a minguante à fase lútea, de limpeza. A Lua Cheia fomenta por isso o embelezamento, a abundância, a fertilidade e corresponde ao resultado da transformação e purificação do sangue. As diferentes hormonas associadas a diferentes “estágios” do ciclo menstrual conferem à mulher uma grande oportunidade de aprofundamento e conexão consigo mesma.  Na nossa sociedade atual, o uso de pílulas anticoncecionais fez com que a mulher deixasse de incorporar e compreender este ciclo de criação e destruição dentro de si, desligando-se assim do tremendo poder de limpeza e regeneração da menstruação, e ficando vulnerável a um leque variado de desequilíbrios que comprometem a sua feminilidade.

O período entre o final da lua crescente e o início da lua cheia está relacionado com a ovulação – os níveis da progesterona elevam-se, sendo segregada pelo corpus luteum, que prepara o endométrio para a implantação e os seios para a secreção de leite. Nesta fase, o Pitta movimenta os instintos reprodutivos femininos, e o odor corporal muda, os cabelos e os olhos da mulher tornam-se mais brilhantes e sedutores, a líbido aumenta tornando a mulher mais atraente para o sexo oposto. Esta é uma fase criativa, que vai para além do poder da conceção, fomentando a expressão de ideias, a exuberância na comunicação e segurança interior na mulher.

Logo após a lua cheia e até ao início da lua minguante, o Kapha faz-se presente com mais intensidade – nesta fase a mulher sente-se inchada, os líquidos são mais facilmente retidos, tende a ser mais carente e pode surgir a necessidade do sabor doce. Na fase da lua minguante a energia é descendente (“move-se para baixo”) – governada pelo apana ayu – na qual a luz da Lua deixa de ser captada pela Terra. Nesta fase (contrária à anterior) os líquidos já são mais facilmente drenados e resguarda-se assim a energia feminina para um novo ciclo. Vata rege o período menstrual – o qual é responsável por devolver o sangue à mãe Terra. Esta fase do ciclo menstrual na mulher corresponde a um momento de introspeção, a um momento em que esta deve apostar no seu recolhimento e máxima concentração no seu poder.

A Medicina Ayurveda sustenta que durante a menstruação a mulher tende a perder muita energia, pelo que as suas atividades nesta fase devem ser menos intensas, devem ser evitados certas asanas – sobretudo as posturas invertidas -, e atividade sexual deve ser pausada. Após a lua nova, e após o período menstrual, as três bioenergias recuperam o seu equilíbrio e preparam o corpo para um novo ciclo. O Kapha volta tornar-se mais ativo para fomentar reconstruir o endométrio, período que é acompanhado pelo aumento do estrogénio.

Menstruação saudável

Uma menstruação equilibrada tem em média a duração de 3-4 dias, com fluxo moderado, cor moderada, sem a formação de coágulos e sem desconforto. Quando surge qualquer tipo de perturbação, os humores requerem atenção e equilíbrio. Quando a energia descendente (apana vayu) se encontra bloqueada surgem todos os tipos de flutuações de dor, inchaço, secura, ansiedade, insónia, períodos escassos, ciclo irregular, coágulos e infertilidade. A estratégia é em primeiro limpar as obstruções e depois tonificar com um reforço de ervas nutritivas.

A menstruação é para o corpo da mulher a oportunidade que a vida oferece para limpar e regenerar a sua energia, fortalecendo o seu sistema imunitário, e libertando do seu corpo toxinas, e também as memórias energéticas e físicas resultantes da sua atividade sexual. A menstruação torna a mulher ‘climatérica’, suscetível a mudanças de ‘hora a hora’, e de dia a dia, volúvel aos humores da lua. Na Ayurveda, a menstruação e as substâncias nela contida denominam-se “astava”, enfatizando o facto da fisiologia feminina ser particularmente sensível à mudança das estações, e à necessidade de adaptação a que incorremos com elas.

A primeira fase do ciclo menstrual é marcada pelo aumento do Kapha, a fase folicular, onde no organismo a produção de folículos pelos ovários é estimulada, na qual ocorrerá a ovulação – pico máximo de estrogénio. Nesta fase o corpo “oferece” assim ao útero uma grande disponibilidade de nutrientes, preparando-o assim para uma possível gravidez. Posterior à ovulação ocorre assim um predomínio da hormona progesterona – que possui características mais Pitta, corresponde a uma fase secretória que compreende o período entre a ovulação até à menstruação seguinte, predominando assim o Pitta no corpo feminino no período pré-menstrual. Durante a menstruação há um predomínio de Vata, que é responsável pelos transportes do corpo, pelo movimento – sendo este o dosha que rege o fluxo menstrual e assim o transporte de sangue para fora do corpo feminino.

Ciclos menstruais em mulheres Vata, Pitta e Kapha

Vata é conhecido por ser a bioenergia aliada ao movimento e à instabilidade, como tal, o ciclo da mulher do tipo Vata tende a ser irregular. O fluxo tende a ser mais seco, escasso, fluído, fino, espumoso, escuro, muitas das vezes acompanhado por coágulos, e também de cólicas menstruais. A zona do abdómen fica rígida e tensa, podendo no início ou antes do fluxo ocorrer a prisão de ventre, e à dor (espasmódica, aguda, cãibras frequentemente na região lombar e abdómen inferior) e com emoções de nervosismo, alterações de humor, falta de concentração e memória e medo. A ansiedade, a insónia e um sono irregular são também comuns.

A prática de um estilo de vida agitado, inconstante, com excesso de movimento (excesso de exercício) produz o aumento do Vata, mesmo em mulheres com outras constituições, podendo levar ao emagrecimento, à amenorreia e à infertilidade, para além de aumentar a tendência para os padecimentos menstruais.

A tendência natural das mulheres de tipo Pitta é para terem ciclos regulares ligeiramente inferiores a um mês. O fluxo é quente, abundante e prolongado, de coloração vermelha viva e brilhante, podendo também ganhar um tom mais escuro, azulado ou amarelado, e um odor carnoso ou até mesmo fétido. Antecedendo a menstruação podem padecer de uma dor de cabeça que diminui com o início do sangramento, e que vêm aliadas à irritabilidade típica do Pitta. Podem padecer de cólicas de meia intensidade, acompanhadas de sensações de calor, ardor, náuseas, vómitos e raiva.  O intestino tende a funcionar mais e produzir fezes mais soltas um pouco antes e durante a menstruação. Podem ocorrer erupções cutâneas na pele em geral, e acne no rosto, em particular.

As mulheres de tipo Kapha têm habitualmente ciclos menstruais regulares, pesados, e por vezes mais longos, com fluxo de média quantidade, tendencialmente pálido e viscoso. A mulher Kapha é a que mais facilmente fica interiorizada, sensível, com uma certa tendência depressiva durante a menstruação. A propensão maior é para a retenção de líquidos, distensão abdominal e inchaço pré-menstrual acompanhada por um aumento de peso, cólicas, dores de peito, e eventualmente candidíase vaginal. As emoções experimentadas podem incluir tristeza e depressão, compensadas muitas vezes com uma tendência para comer alimentos doces.

É certo que uma mulher pode sentir toda uma mistura destes diferentes sintomas, já que é tendencionalmente constituída pelas três bioenergias, embora em proporções diferentes. A observação dos sintomas prevalecentes pode ajudar a caracterizar a menstruação, e desta forma definir uma ação mais assertiva para a sua saudável manutenção.

Nutrir o ciclo menstrual

Para manter o Vata em equilíbrio durante a fase da menstruação é necessário a relaxar, a descansar, mantendo o calor e a calma. É importante manter o abdómen quente e evitar o frio. O equilíbrio do Kapha durante a fase proliferativa alcança-se comendo sopas nutritivas que fortalecem o sangue e melhoram a ovulação, incluindo beterraba, aloé vera, shatavari (espargos), urtigas e cereais integrais. Para manter o equilíbrio do Pitta durante a última fase do ciclo, deve-se evitar alimentos que poderiam agravar calor e stress no corpo, ou seja, álcool, café, chocolate. Aumentar a prática de yoga, tomar banhos quentes, fazer uma massagem abdominal no sentido horário e adicionar Ashoka Triphala e aloé vera à dieta para manter a região pélvica descongestionada.

A menstruação é uma oportunidade para o corpo da mulher se purificar. Respeitar essa oportunidade, facilitá-la, traz maior conforto. O descanso é fundamental, o que pode significar que é ideal ficar em casa o máximo possível durante a menstruação. O corpo da mulher passa por muitas mudanças e trabalha arduamente para eliminar toxinas. A mulher pode dar um passeio relaxante e agradável de 15-30 minutos.

Como se poderia esperar, as mulheres com um desequilíbrio de Vata obtêm melhores resultados a partir do repouso, a meditação e uma rotina regular. Aquelas com um desequilíbrio de Pitta respondem melhor a uma limpeza interna mensal, e aquelas com um desequilíbrio de Kapha reagem melhor aos suplementos à base de plantas e a uma dieta que reduz impurezas.

  • Recomenda-se uma automassagem diária com óleo de sésamo quente seguida de um banho ou duche quente. Concentre-se numa massagem abdominal no sentido horário 5 minutos por dia.
  • Ingerir sumo de aloé vera em todo o ciclo do 7º dia até ao 21º dia para limpar e nutrir os tecidos.
  • Beber água morna em abundância ajuda a realizar uma leve desintoxicação e a libertar o peso da menstruação.
  • Beber uma infusão feita a partir de sementes de erva-doce, alcaçuz, açafrão e gengibre fresco.
  • Beber água de rosas regularmente, enquanto se prepara o útero para a implantação.
  • Pratique Pranayama: para Vata, Respiração por narina alternada (Anulom Vilom), para Pitta a respiração

Sheetali (Respiração de refrigeração); para Kapha, a respiração Kapalabhati (respiração de fogo).

Yoga para o ciclo feminino

Embora idealmente a mulher menstruada deva reduzir a sua ativa, a prática de algumas posturas pode fomentar o apana vayu, o movimento descendente do fluxo, e desta forma amenizar os sintomas da menstruação. Certas posturas de yoga demonstraram ser relaxantes, promover o fluxo e reduzir os sintomas se feitas corretamente. Exemplos de poses de ioga benéficas incluem:

  • Pose de criança (Balasana)
  • Ângulo lateral estendido (Parsvakonasana)
  • Cabeça ao joelho (Janusirasana)
  • Pose de borboleta / sapateiro (Badha konasana)

Desequilíbrios menstruais

Amenorreia | Ausência de ciclo menstrual

Um ciclo menstrual normal varia de 26 a 35 dias. Se um período se atrasar, sem resultar em gravidez, ou a hipótese de menopausa ser ainda improvável, é possível que haja um desequilíbrio hormonal e/ou anormalidades da tiroide. Os ciclos também podem atrasar-se devido a stress mental, doença física, estilo de vida inadequado, anemia ou viagens.

Na Ayurveda, anaartavam (período retardado) é causado devido a um desequilíbrio de Kapha e Vata dosha, e nos tecidos do corpo, o dhatus. Além disso, o apana vayu que expele o artavam (fluido menstrual) pode estar bloqueado. O Artavam é considerado Pitta na sua natureza, e assim os alimentos que aumentam o Pitta no corpo são conhecidos por produzir os resultados desejados.

Alguns alimentos que ajudam são as sementes de sésamo preto (demolhar durante a noite e tomar de manhã), papaia, sumo de abacaxi fresco, sementes de linhaça, amêndoas, gengibre, canela, maçãs, nozes e vegetais folhosos. Estes são alguns alimentos benéficos que podem ajudar a induzir o seu período.

Algumas das ervas ayurvédicas benéficas para equilibrar a amenorreia são o aloé vera, ashwagandha e triphala. É importante consultar um Terapeuta ou Médico de Ayurveda qualificado antes de consumir estas ervas. Na rotina diária são benéficas as asanas de fogo, asana borboleta e respiração kapalabati, o sopro de fogo massagem com óleo, banho de vapor.

Dismenorreia | dores menstruais

Muitas mulheres experimentam fortes dores e cãibras durante a menstruação, especialmente nos primeiros dias. Isto acontece sobretudo quando existe um fluxo intenso, sinal de que o corpo está a utilizar a menstruação para eliminar o excesso de calor da corrente sanguínea, e do excesso de Pitta. Na Medicina Ayurvédica, é habitual usar-se um tratamento Panchakarma denominado de Rakta mokshana para realizar a libertação profunda do excesso de calor. Esse excesso de calor acumulado no sangue provém habitualmente do tipo de alimentos que estão a ser ingeridos.

Algumas sugestões:

  • Tomar um duche frio, sem ser gelado, para permitir ao corpo libertar o calor.
  • Evitar alimentos fritos, alimentos altamente condimentados ou alimentos processados ​​quando o fluxo está realmente pesado.
  • Um chá refrescante que inclui gotu kola, rosa e uma pitada de cardamomo é muito benéfico para mulheres que têm um fluxo pesado do Pitta.
  • Reduzir o açúcar. Ao reduzir o açúcar da dieta, reduz-se o fluxo durante a menstruação.
  • Aromaterapia, especificamente camomila romana, sálvia e manjerona podem ajudar a pacificar o Pitta.
  • O óleo de coco, pode ser usado para massajar o abdómen.
  • Limite o consumo de álcool, pois cria um desafio para o fígado, que fica superaquecido, e leva a um fluxo menstrual intenso.
  • Aumentar a ingestão de potássio – bananas e coco são fontes ricas.
  • Comer alimentos que são ricos em ferro é muito importante após a menstruação para certificar o reabastecimento do ferro gasto durante a menstruação.

O relaxamento é também fundamental, quando as dores menstruais são mais do tipo Vata. Nesse caso, para ajudar os músculos a dissolverem a tensão, é necessário aquecimento da zona abdominal como uma formas mais simples de produzir esse relaxamento, ao mesmo tempo que se fomenta o movimento descendente da menstruação, e se evita as cólicas. Uma infusão de feita de cravinho, canela e valeriana é ideal para esta trazer calor e amenizar a dor.

Também se pode aplicar óleo de rícino, ou óleo de mostarda com umas gotas (4-8) de óleo essencial de lavanda na zona inferior do abdómen, e massajar no sentido horário, insistindo um pouco na zona abdominal onde possa sentir cãibras. O mesmo óleo pode também ser aplicado na zona lombar com uma ligeira massagem. De seguida pode-se aplicar um saco de água quente tanto no abdómen como na zona lombar. A lavanda é especificamente benéfica para o sistema nervoso e para o sistema reprodutivo feminino.

O mais importante é construir um rasa dhatu de qualidade (rasa dhatu é o tecido nutridor do endométrio), que quando é húmido e rico, e chega o momento para o endométrio se separar do útero, ele move-se facilmente para fora do corpo, sem produzir dor.

TPM | Tensão Pré-Menstrual

A TPM é um sinal de irregularidade hormonal e muitas vezes é um problema relacionado com o stress. Quando existem desequilíbrios no corpo, a tendência será para o período pré-menstrual exacerbar esses desequilíbrios, produzindo sintomas que variam de acordo com a constituição da Mulher, podendo ser sintomas de tipo Vata, Pitta ou Kapha, mas também com a estação do ano, a rotina, o estilo de vida, a alimentação, o trabalho, o stress, e tendências corporais específicas que pode apresentar.

Uma das formas mais simples de reduzir o impacto da TPM é fazer meditação, com o propósito de acalmar a mente. O Yoga nidra (yoga do sono), é uma das outras formas de libertação de tensão. O exercício do yoga nidra leva a pessoa a um espaço profundo e repousante, e o cérebro imita o padrão de ondas cerebrais que temos durante o sono. A prática do yoga nidra é tão repousante que pode equivaler a 4h de sono.

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A conexão com a natureza é outro grande redutor de stress. Nós vivemos em casas com luz elétrica, wifi e cimento ao nosso redor, por isso, o nosso corpo físico desconecta-se muitas vezes do mundo natural, fator que na verdade incrementa o stress. Os nossos diferentes corpos (físico, emocional, mental e espiritual) operam a diferentes níveis e reabastecem-se de diferentes formas. A mente tende a ficar distraída com o trabalho e as preocupações diárias, desligando-se dos sinais que os outros corpos emitem da sua necessidade de cuidado e nutrição.

É importante realçar que todas as sugestões apresentadas se destinam sobretudo ao conhecimento do ciclo feminino e de possíveis desequilíbrios na mulher, sendo contudo necessário que qualquer tratamento seja seguido e orientado por um terapeuta ou médico credenciado.